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Monday, October 26, 2009

Bate papo com Diego Stoliar sobre Mercado de Animação - histórico parte I



DIEGO STOLIAR, animador, produtor, diretor de arte




Começamos com o pé direito as discussões realizadas pela Casa de Quadrinhos, com presença de Diego Stoliar que nos apresentou um breve histórico da evolução do mercado de animação mundial, suas características mais marcantes e ainda com dicas para o que podemos esperar para o futuro do mercado brasileiro. Segue um resumo do que foi apresentado.

Diego inciou com uma abordagem sobre o pioneirismo de Émile Reynaud (1844-1918), inventor do Praxinoscopio e que para ele lança na história do cinema as bases para a produção de curta metragens em animação.

Com a evolução dos mecanismos e do próprio cinema, pequenos grupos de artistas e técnicos se reunem para produção de curtas, com temáticas variadas, que eram exibidos nos cinemas antes dos filmes de longa metragem. Nesse contexto surge um grupo de jovens : Ub Iwerks (1901-1971), Roy (1893-1971) e Walt Disney (1901-1966) com a produtora Laugh-O-Gram, em 1922. Esse grupo lança a base para a chamada indústria do Cinema de Animação.

Para Diego as principais características estabelecidas foram:
elevar a animação a um status de arte, agregando ao processo de produção artistas plásticos, músicos clássicos e um refinamento técnico;
realizar no filme coisas que somente a técnica de animação permitiria como o antropomorfismo (dar característica humana a animais como Mickey por exemplo), recriar a esfera do conto de fadas dando vida a seres mágicos, mitológicos e imaginários;
Introduzir o lúdico na narrativa ao apropriar e revigorar as gagues do Cinema mudo;
formar as bases da indústria da animação ao introduzir o conceito de prototipagem, no qual uma matriz é criada para serem reproduzidas cópias em larga escala.

Já na década de 40, em meio a questionamentos artísticos sobre a estética Disney, a greve dos animadores, a introdução da TV no cotidiano familiar, surge a UPA - United Productions of America que marca a história do cinema de animação com sua estética modernista, como também o mercado ao produzir filmes publicitários e educativos, e fundar o conceito de animação LTDA, que seria mais tarde amplamente difundido pelos estúdios Hanna-Barbera.

O volume de produção gerado após essa fase, faz com que o mercado americano, ao buscar uma solução para a crescente demanda de profissionais técnicos qualificados, num acordo com o Canadá monte um parque de produção nesse país. Houve um estreitamento das relações através do NFB -National Film Board em 1939, que foi fundado com o intuito de difundir a produção cultural canadense. A NFB passa a ser o centro de realização fílmica, formação e espaço de animadores experimentais, tornando se em pouco tempo um dos grandes pólos de produção criativa em animação. Atualmente o Canadá possui um dos principais pólos de formação, produção executiva e Games.

Nesse momento Diego faz uma ponte com a produção brasileira, que segundo ele, possui uma produção difusa pelo país e para uma análise dos núcleos de produção abordou dois deles: curta metragem artesanal e publicidade.

Características gerais da produção do curta metragem artesanal no Brasil:
Equipes pequenas ou somente o animador;
Animador generalista (cumpre todas as funções do filme desde direção até edição e difusão);
Trabalho criativo: auto didata, conhece várias técnicas e as utiliza;
Projetos longos;
Orçamentos baixos.
Produção intelectual.

Características gerais da produção de animação em publicidade no Brasil:
Equipes pequenas ou somente o animador agenciado por Produtora ou empresa;
Animador generalista (cumpre todas as funções do filme desde direção até edição e difusão);
Trabalho criativo: auto didata, conhece várias técnicas e as utiliza;
Projetos curtos;
Salários mais altos, mas limitados;
Produção preferencialmente comercial.

Desde a década de 80 há um estreitamento das relações Brasil-Canadá com formação de núcleos de animação pelo NFB, com destaque para Campinas - Núcleo de animação, Rio de Janeiro - CTAV e Minas Gerais UFMG. Especificamente no Rio Grande do Sul após um curso com o argentino Félix Folonier, Otto Guerra funda a OTTO desenhos animado, da qual surgem Cartunaria, 2D LAB, fundada por profissionais que passaram por esse estúdio. Atualmente a produção está em efervescência com produções vindas do Norte e Nordeste também.

No Brasil há um crescente interesse nos últimos anos a produção nacional que ficou conhecido como o Boom da animação, pelos seguintes fatores: atenção da comunidade internacional ao Brasil, país cotado como um dos que menos sofreram com a crise mundial, crescente sucesso do cinema nacional com premiação de filmes em festivais de peso como Cannes, tendências tecnológicas como virtualização dos processos (conexão via Internet, gestão de equipe via rede, circuitos alternativos de comunicação como iphone, crescente uso de software livre), pólos de produção como Estados Unidos e Canadá terceirizando parte da cadeia produtiva, mas mantendo o controle criativo.

No próximo post Diego fala da atualização do mercado, o que é necessário para que os profissionais se adequem para não ficar de fora e dá dicas do que observar nas novas tendências.